terça-feira, 16 de outubro de 2012

FELIZ DIA DOS PROFESSORES TURMA


Em busca da revitalização social da profissão docente1

Profª. Dra. Branca Jurema Ponce2
“Ele era quase um mito. Nas populações do interior, aonde ainda não chegaram os grandes meios de comunicação com seus super heróis, ele era considerado um herói, um sábio, um mestre, um conselheiro. Sua palavra virava sentença. Sua solução um caminho. Quem era esse mortal? O Sr. Monsueto, professor de escola primária, em Planalto, Santa Catarina, vila de colonos italianos.”
Leonardo BOFF
Símbolo de valores fundamentais da vida - simplicidade, idealismo, humildade, honestidade, amor ao próximo - os senhores Monsuetos, ao mesmo tempo em que representaram uma linda e romântica imagem dos professores, deram lugar, na história de nosso país, a docentes desvalorizados.
“Na vila, ele sobressaía como um pinheiro sobressai no meio da macega ou dos campos de gado, ondulados e verdes” 3
De figuras socialmente destacadas, os professores foram se transformando, lenta e gradualmente, a partir da segunda metade do século XX em presenças sociais desbotadas por políticas públicas de descaso com a educação escolar.
Senhores Monsuetos representaram também uma concepção sacerdotal de professores, que remeteu à negação de sua profissionalização. O magistério como missão e não como profissão. Essa concepção impregnou a sua formação, assim como gerou uma identidade docente com a qual até hoje temos que lidar.
Fruto de pesquisa e observação pôde-se constatar a presença de sentimentos de culpa, aflição, impotência e vergonha, presentes em professores que vivenciam situações de incompatibilidade entre as suas condições reais de trabalho e o ideal de professor que nele se formou. Magoados e insatisfeitos porque submetidos à formação precária, remuneração insuficiente e desvalorização social, ao mesmo tempo em que têm alimentado em sua formação um imaginário que abriga docentes parecidos com o Sr. Monsueto, muitos são os professores que ainda vêm mantendo a duras penas suas crenças e utopias na educação solidária e vêm resistindo quase que heroicamente às difíceis condições de trabalho e formação a que estão submetidos.
É tempo de luta e de re-construção da identidade de professores que não correspondam ao Sr. Monsueto, que representa um modelo superado, nem se conformem com o desbotamento social que sofreram, mas que emerjam de suas próprias utopias e condições profissionais, que sejam construídos pelo coletivo dos professores e promovam uma revitalização da profissão docente. Dar brilho à vida que lhe é própria é tarefa de todos os professores e cidadãos que julguem importante a profissão docente.
Essa tarefa torna-se mais urgente em tempos de contradições agudas em que, de um lado, o pensamento teórico brasileiro na área de educação avançou reconhecendo e apontando caminhos para a construção de novas identidades docentes, e de outro,
1 Texto publicado no site do Senac em edição comemorativa ao Dia dos Professores (15 de outubro de 2007)
2 Professora titular da PUCSP do Programa de Pós-Graduação em Educação: Currículo.
3 BOFF, Leonardo. Os sacramentos da vida e a vida dos sacramentos. Petrópolis: Vozes, 1986, p. 43
2
pacotes de apostilas chegam às escolas em nome da implantação de um “novo currículo” escolar e trazem como pressuposto a necessidade do “treinamento” dos professores considerados apenas como técnicos-executores de um projeto muitas vezes desterritorializado. Propostas desarticuladoras dos docentes e das escolas não contribuem com a necessária formação permanente e com a consideração do ambiente escolar como formador de cidadania.
Os docentes são os únicos responsáveis pela gestão aular e os corresponsáveis pela gestão escolar; são os gestores na e da sala de aula, célula-mãe da escola. São eles que imprimem a política das relações intra-aulas, que, em última instância e junto com os alunos, definem e norteiam a relação ensino-aprendizagem.
Os professores que buscamos construir: nem o Sr. Monsueto, nem o técnico-executor desbotado, tampouco o missionário ou o que tem sentimentos de culpa, aflição, impotência e vergonha. Buscamos construir, dia-a-dia, um docente profissionalizado, valorizado socialmente, com formação para lidar com a dura realidade de nosso momento histórico, que seja sujeito histórico das propostas pedagógicas e políticas educacionais, e que cultive sentimentos de justiça, solidariedade e orgulho de ser professor(a).
É possível.
Feliz 15 de outubro!

6 comentários:

  1. Este comentário foi removido por um administrador do blog.

    ResponderExcluir
  2. Marciapedagogia2010@gmail.com23 de outubro de 2012 às 11:31

    "O que o professor faz é tão divino que não carece de inteligência, e sim o dom de aperfeiçoar os seus alunos."

    ResponderExcluir
  3. "Feliz aquele que transfere o que sabe e aprende o que ensina.

    Cora Coralina

    ResponderExcluir
  4. Este comentário foi removido pelo autor.

    ResponderExcluir
  5. A primeira fase do saber, é amar os nossos professores

    ResponderExcluir
  6. Apesar de tudo o que acontece na sociedade hoje, que parecem impossibilitar a ação do professor, algumas pessoas principalmente os professores mostram que isso é possível. como termina o texto.
    Vânia.

    ResponderExcluir

Escolha a opção anonimo se não tiver conta no gmail.
Deixe seu 1° nome.